quinta-feira, 23 de outubro de 2008

EXCALIBUR



EXCALIBUR
(1981, Inglaterra, EUA, Direção de John Boorman, Elenco: Nicol Williamson, Nigel Terry, Gabriel Byrne, Liam Neeson, Helen Mirren, Keith Buckley, Cherie Lunghi, Nicholas Clay, Paul Geoffrey, Robert Addie, 142 min).


Sempre via esse filme quando passava no SBT à tarde na década de 1980 início da de 1990. Isso porque sempre fui um tremendo fã das lendas Arthurianas, fato que se iniciou ainda na infância com um desenho nipônico que passava na Rede Record.

Considero Excalibur (dirigido pelo inglês John Boorman em 1981) a melhor adaptação das lendas do rei Arthur já feitas para o cinema até hoje. Lancelot, O Último Cavaleiro ou o recente Rei Arthur? Esqueçam, odeio esses filmes. Rei Arthur é isso aqui.

A lenda do rei Arthur possivelmente possui um mínimo de verdade recheada de muita ficção mas ninguém sabe realmente onde nem quando foi sua criação, só há suposições. Provavelmente teve início com a história oral passando de gerações em gerações e começando a ser registrada posteriormente.

O filme de Boorman tem como base o livro de Sir Thomas Mallory (1405-1471) intitulado A Morte de Artur publicado no século XIII. Isso mesmo, há longínquos oito séculos. Tenho o livro e recomendo. Devemos lembrar que já existiram diversas interpretações das lendas de Arthur (por isso acho importante a necessidade de citar a fonte com a qual Boorman trabalhou) como o famoso Brumas de Avalon de Marion Zimmer Bradley que fez muito sucesso no início dos anos 1980 e mostra a lenda pela visão das personagens femininas trazendo algumas mudanças em relação a obra de Mallory.

Assim como o título do livro sugere o filme trata do nascimento até a morte do Rei Arthur. E tudo está lá com interpretações ótimas: o nascimento de Arthur ocorrido com o plano de Merlin e Uther Pendragon; os Cavaleiros da Távola Redonda; a criação da própria Távola Redonda; a honradez dos cavaleiros; Morgana; Percival; a busca do Santo Graal; a Dama do Lago; Excalibur sendo retirada da rocha; Mordred, filho incestuoso de Arthur; o triângulo amoroso entre Arthur/Lancelot/Guinever e o mago Merlin brilhantemente interpretado por Nicol Williamson. Além disso tudo em 142min. de filme há ainda de forma implícita a discussão entre a mudança de uma visão de mundo do paganismo e o surgimento e fortalecimento do cristianismo enterrando cada vez mais a cultura pagã. Os diálogos de Merlin mostram isso e o próprio Arthur vive entre os dois mundos visto que é cristão mas não se desliga de seu conselheiro e sábio Merlin, que é fruto do antigo paganismo e de sua interpretação do mundo.

Além disso a direção é ótima, as interpretações, fotografia, figurino, tudo idem. Para alguns o único defeito é nos minutos finais, a partir da busca do Graal, que o filme fica meio confuso e onírico demais. Eu diria que ele se torna simbólico por meio das imagens, ou melhor, a partir daí as imagens têm um valor simbólico maior do que nas outras partes do filme. Muitos podem atribuir um sentido diferente ao Graal e ao momento que Arthur doente, fraco e deprimido bebe do Graal e retorna à batalha, acho esse o momento mais simbólico do filme.

Vale ressaltar também a fantástica trilha sonora de Trevor Jones sem a qual o filme não seria o mesmo. Jones utiliza Carmina Burana de Carl Orff nos momentos certos para emocionar ainda mais.

Para quem não viu e gosta das lendas de Arthur recomendo. Para quem só viu Lancelot, o último Cavaleiro e Rei Arthur é obrigatório pra ver o que é um filme do Rei Arthur de verdade e pra quem gosta de cinema recomendo simplesmente por ser um grande filme. Espero que nunca mais filme a lenda de Arthur, pois considero esse a obra definitiva.

p.s.: como curiosidade há um Patrick Stwart (Capitão Picard de Star Trek the next generation) e um Liam Neeson ainda bem novos.

Um comentário:

Unknown disse...

Será que a cultura pagã foi enterrada de fato ou isso é uma construção ingênua?
O rei Arthur é na verdade um emblema dessa heterogeneidade tao preterida quando se fala em cultura medieval. No mundo medieval, o pagão e o cristão existiram juntos se influenciaram, se aculturaram e construiram uma realidade única, muitas vezes apagada pelo tempo, pela história, mas não pela memória.