terça-feira, 18 de maio de 2010

Dio - o cavaleiro de Neon


É muito chato eu ressucitar esse blog com uma notícia tão triste mas não tinha como não prestar uma homenagem a um ser humano maravilhoso e ícone da música: Ronnie James Dio que faleceu no último domingo 16/05/2010.


Dio foi vocalista de diversas bandas (Elf, Rainbow, Black Sabbbath, Heaven and Hell) e de sua carreira solo. Sua trajetória e a histórica do rock - e principalmente do heavy metal - se confundem. Pra quem não sabe ele que inventou - ou no mínimo popularizou - os famosos chifrinhos feitos com as mãos nos shows mundo afora.


Hoje digo com absoluta certeza que Dio é foi um dos responsáveis por eu amar rock, metal e música em geral. Lembro até hoje quando há mais de 15 anos um amigo gravou uma fita cassete com várias música de rock. Tinham duas que vinham em seguida: Neon Knights (Black Sabbath)e The Number of The Beast (Iron Maiden). Nossa, quando ouvi essas duas músicas entrei em êxtase total, achei aquilo único, maravilhoso, extraordinário. E as vozes dos vocalistas? Que vozes eram aquelas? O nome deles? Dio e Bruce Dickinson (na época eu achava ambas bem aprecidas até). Se não fosse esses dois nomes com essas músicas matadoras em sequência talvez eu fosse outra pessoa hoje.


Com o tempo fui ouvindo mais de Dio tanto no Sabbath como solo e Rainbow. Cada vez me maravilhando mais. E o Holy Diver? O que era aquilo? Que albúm. Gravei o clip de Rainbow in the Dark na MTV (extinto Fúria) e vi milhares e milhares de vezes.


Até que o baixinho veio tocar no RJ. Como eu queria vê-lo. Mas infelizmente eu era na época um estudante fã de metal sem grana. Perdi uns dois ou três shows dele nos anos seguintes. Até que anos depois pude finalmente assitir um. E foi algo sem palavras. Era incrível como ao vivo o cara era ainda melhor que vê-lo em vídeos, a voz mais perfeita, a presença de palco e o carisma gigantesco, que carisma o baixinho tinha num palco.


Lógico que nem preciso de dizer que queria muito ouvir Neon Knights. Ele nem sempre tocava e nesse parecia que não tocaria também. Não que depois de ouvir Rainbow in The Dark, Don't Talk the Strangers, Heaven and Hell eu fosse achar o show ruim mas se o cara tocasse seria a cereja do bolo de um show perfeito.


E o público pedia no final Neon Knights, eu nunca fui de pedir música em show mas também gritei Neon Knights. O show acabava aparentemente ali mas Dio olhou pra gente, olhou diretamente pra mim e outras pessoas próximas e foi no ouvindo do guitarrista. Esse parecia que não queria tocar - o show oficial já havia terminado acredito eu - mas Dio aparentemente deu-lhe um pequeno esporro olhou pra platéia e gritou com fúria com o punho fechado para o alto: Neon Knights.


Até hoje conto pros amigos como entrei em transe naquele momento, sério, foi transe mesmo. Foi uma das maiores emoções da minha vida em um show. A música foi executada de forma maravilhosa, perfeita, primorosa. Uma das músicas de maior responsabilidade em me fazer ouvir metal e rock. Nunca esqueci esse primeiro show do mestre.


Depois ainda vi outro solo que iniciou com a lenta Children of the Sea de forma maravilhosa com uma integração público/banda inesquecível. Foi outro show espetacular mas sem Neon Knights dessa vez. Mas nunca esqueci uma cena de um pai que levou nos ombros a filha de uns 9 ou 10 anos na Heaven and Hell pra ver o mestre bem de pertinho - no momento da luz vermelha - e o aceno dele pra menina que estva com os olhos fixos no palco.


Pra minha sorte sai a notícia anos depois que Ronnie tocaria de novo com Iommi, Butler e Appice e fariam tour pelo Brasil e o Rio de Janeiro. Sim, eu iria ver o baixinho ao lado de outras lendas - incluindo meu baixista preferido na história do rock, Geezer Butler, ao lado de Steve Harris do Iron Maiden. O show foi um primor do início ao fim. A honestidade, profissionalismo, carisma, o modo como era tocado...sem palavras. Sempre soube que tava presenciando lendas na minha frente, lendas vivas. Dessa vez com direito a Neon Knights novamente com o próprio Black Sabbath.


Nunca imaginaria que seria última vez que veria o baixinho ali na minha frente com todo o seu carisma e simpatia detonando sua voz maravilhosa. Voz essa que é rasgada, melódica, limpa, calma ou um trovão. A voz que é o que a música pedir.


Já estava pronto esse ano pra outro show mesmo sabendo da luta do baixinho contra um tumor que achei que seria vencido. Por ele morreria né? Lendas são eternas.


Infelizmente a notícia veio - eu meio que já estva sentindo que isso aconteceria quando a esposa de Dio, Wendy, falou que ele havia piorado. Foi uma notícia que bateu forte no peito. Engraçado como mesmo nunca tendo falado pessoalmente com ele notei que era parte da minha vida. Sua voz me acompanha desde a adolescência em casa, trablho, escola, bares, viagens, me deixando sempre feliz, empolgado...melhorando qualquer dia ruim. Todo ano ficava a espera da próxima tour pra vê-lo e ouvir sua voz. Agora acabou.


Mas sempre lembro de um diálogo do filme Menina de Ouro em que Morgan Freeman diz algo como: muitas pessoas têm muitos desejos de serem algo na vida, pouquíssimas conseguem, essas no dia em que se forem irão tranquilas pois viveram uma vida maravilhosa do jeito que queriam fazendo valer cada minuto de sua existência na Terra. Precisa dizer que Dio foi um desses?


Só posso dizer que me sinto um grande privilegiado por tê-lo visto ao vivo três vezes e uma ainda por cima com o Black Sabbath (ou Heaven and Hell, chamam como quiserem). Vi um dos criadores de um estilo não só de música mas além. E vi uma pessoa maravilhosa também. Qual fã de música clássica não gostaria de ter visto Beethoven, Chopin ao vivo? Eu tive a sorte de ver o Beethoven do heavy metal ao vivo. Pena as novas gerações que não terão esse privilégio mas que continuarão amando sua arte. A grande mídia não dará muita atenção pelos motivos já conhecidos.


Finalizo com o óbvio. Agradecendo ao Dio por tudo que ele vez em sua vida, pela arte mágica e eterna que criou, por todas as felicidades que trouxe pra mim e milhares de pessoas ao redor do mundo. Sua passagem na Terra deixou um rastro de bons sentimentos e realizações que se fixaram no coração de milhares de pessoas e cujas vibrações serão eternas. Vá em paz baixinho. Valeu por tudo.